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Fintechs atraem empresas com menos burocracia para crédito

Fonte: Folha de S.Paulo
27/10/2020
Tecnologia

Com a promessa de rapidez na análise de crédito, processos 100% virtuais e menos burocracia do que nos bancos tradicionais, startups de serviços financeiros despontam como alternativa para pequenos negócios e MEIs (microempreendedores individuais).

As taxas de juros e os prazos de pagamento variam conforme o perfil do tomador e são semelhantes aos dos bancos, indo de 1,9% a 9% ao mês, com prazos entre 24 e 36 meses.

Fábio Neufeld, líder da vertical de crédito da ABFintechs, associação do setor, explica que as fintechs têm foco no cliente e são mais flexíveis, já os bancos têm produtos prontos que muitas vezes não podem ser adaptados.

O processo de análise de risco também é diferente. As startups usam dados que vão além da pontuação dada pelos serviços de proteção ao crédito, o chamado "score". Elas incluem informações captadas junto a bancos, redes sociais e questionários que avaliam aspectos psicológicos do tomador.

Depois de bater à porta de cinco bancos e de ter todos os pedidos negados, Andy Alves, 38, dono do Saravá Brasil Bar, em Sorocaba (SP), chegou à Iouu, que opera na modalidade P2P (peer to peer), onde o crédito é ofertado por meio da captação de recursos com investidores.

Na pandemia, a Iouu lançou uma campanha propondo que os próprios clientes das pequenas empresas se tornassem financiadores.

Com isso, Alves conseguiu um empréstimo de R$ 48 mil, com 24 meses para pagar, a juros menores que as linhas pesquisadas nos bancos.

O dinheiro foi aprovado em dois dias e levou outros 20 para cair na conta corrente.

Desde que recebeu aval do Banco Central para funcionar, em 2019, a Iouu já distribuiu R$ 22 milhões em crédito para 250 pequenos negócios. As operações vão de R$ 1.000 a R$ 500 mil, com prazos de pagamento entre três e 33 meses.

Entre março e agosto, a startup notou um aumento da demanda por empréstimo. A campanha nas redes sociais para incentivar investidores a apoiar pequenos negócios em crise surtiu efeito, com a captação de R$ 5 milhões e socorro a 82 empresas.

Capital de giro é um dos principais motivos que leva os pequenos negócios a buscar crédito na pandemia.

Segundo pesquisa realizada em julho pela fintech BizCapital junto a 2.000 MPEs dos setores de comércio e serviços, 54% pediram empréstimos por esse motivo.

A BizCapital atende MEIs e companhias com faturamento de até R$ 5 milhões ao ano. Na pandemia, saiu de 5.500 empresas atendidas para 7.000.

O modelo de negócio promete dinheiro rápido (entre 24 e 48 horas, em média) para pequenas empresas, segmento desassistido pelos bancos, na visão do fundador da fintech, Francisco Ferreira.

"As maiores queixas dos clientes em relação aos bancos é que eles não se sentem prioridade e ficam à mercê de um processo de análise pouco transparente", diz Ferreira.

A fintech usa robôs que acessam dados das empresas em bases públicas e privadas para a análise de risco. Os empréstimos vão de R$ 5.000 a R$ 200 mil, com taxa de juros de 1,99% a 6,49% ao mês.

A Rebel, fintech de empréstimo pessoal online, desenvolveu uma ferramenta própria que usa inteligência artificial para analisar o comportamento financeiro do tomador e dar um score, a partir do qual definem uma taxa de juros, que começa em 1,9%.

O foco nas MEIs, que hoje representam 20% da base de clientes, ganhou reforço por meio de uma parceria com a Ton, empresa de serviços financeiros e máquina de cartão do grupo Stone, em vigor desde março.

"Era um público que gostaríamos muito de atender, pois há uma lacuna no mercado de crédito para autônomos e microempreendedores", diz André Bastos, cofundador da Rebel.

Ainda neste ano, a fintech quer começar a ofertar empréstimo para negativados e está testando um modelo próprio para análise. A startup já concedeu R$ 100 milhões em créditos, com tíquete médio de RS 7.000.

Segundo Bastos, o potencial do mercado para as startups é generoso, já que o crédito para pessoas físicas sem garantia hoje está 80% concentrado nos cinco maiores bancos. As fintechs detêm menos de 2% desse mercado.

"Nos EUA, há dez anos, 2% desse mercado era atendido por fintechs. Hoje elas já alcançam 50%", diz.