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Avanço da variante Ômicron encarece matérias-primas

Fonte: O Globo
18/01/2022
Coronavírus

Empresas de diversos setores e economistas que acompanham o avanço da variante Ômicron já dão como certo que uma nova rodada de impacto na cadeia global de suprimentos será sentida no Brasil e em outros países.

Ainda é difícil mensurar a magnitude, mas diante do aumento dos preços de insumos, as empresas já reveem sua estratégia para este ano. A saída tem sido antecipar compras para reforçar estoques ou revisar planos.

A indústria têxtil começou o ano pagando bem mais por suas matérias-primas. A cotação do algodão, o principal insumo, voltou a alcançar patamar recorde diante de uma oferta apertada e uma demanda mais forte.

O preço de referência para março, negociado em contratos na Bolsa de Mercadorias de Nova York, bateu o maior valor em uma década.

Para o setor, este já é um dos efeitos práticos do aumento de contaminações provocadas pela Ômicron no mundo.

— O preço do algodão é cotado internacionalmente. Insumos químicos e corantes estão mais caros. As contaminações de Covid-19 pela Ômicron na Ásia trazem nova onda de incertezas. O ano começou nervoso — diz Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), que lembra que a China costuma “trancar tudo” quando há contaminação.

Pimentel afirma que ainda não há falta de insumos, mas o país importa uma parte de produtos sintéticos, como fios de poliéster.

O fechamento de fábricas em várias partes do mundo, pela contaminação de funcionários pela Ômicron ou gripe, pode trazer problemas no fornecimento e agravar as dificuldades logísticas, que se arrastam desde o ano passado.

Muitas empresas já se antecipam e aumentam estoques de produtos e matérias-primas. Os gestores lembram que o fornecimento de insumos e matérias-primas não foi totalmente normalizado e que os efeitos práticos disso podem ser novos aumentos de preços ou escassez de produtos.

A Vulkan do Brasil, empresa de origem alemã que produz peças para refrigeradores, navios e equipamentos para mineração e siderurgia, aumentou em 20% os estoques de matéria-prima para evitar falta de insumos e novos aumentos de preços. E elevou na mesma proporção o estoque de produtos básicos acabados.

— Produzimos nossos produtos sob demanda, mas essa estratégia de elevar estoque de produtos básicos acabados e matérias-primas está sendo mantida neste momento — diz o presidente da Vulkan do Brasil, Klaus Friedrich Hepp.

No setor de construção civil, o vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, lembra que o prazo de entrega de cerâmicas nas obras chega a até 120 dias atualmente.

Antes da pandemia, eram apenas 30 dias. Em caso de obras de grande porte, por exemplo, corre-se o risco até de ficar sem reposição de material para o fim da obra:

— A notícia de mais casos de Covid-19 é perturbadora para o setor. As empresas precisam se planejar mais e têm que aumentar o volume de capital gasto com estoques.

Lançamento atrasado

No setor automobilístico, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, lembra que as montadoras estão trabalhando com um horizonte de quatro semanas para o recebimento de semicondutores.

A preocupação é que a Ômicron afete novamente a cadeia de fornecedores com a contaminação de funcionários, impactando a produção e atrasando ainda mais a entrega.

Esperava-se que até o fim do ano, ou no início de 2023, a produção de chips já estivesse normalizada.

— A escassez de insumos seguirá como agravante para a indústria, principalmente para setores como automóveis, informática e alta tecnologia — diz a economista Andressa Guerreiro, da Tendências, especialista em indústria nacional. — A expectativa era de que o primeiro trimestre fosse melhor, mas com o aumento de casos de Covid-19 na China, fechamento de fábricas e portos congestionados isso está ameaçado.

O presidente da Usaflex, Sergio Bocayuva, fabricante de calçados com quatro unidades industriais em cidades do Rio Grande Sul, atrasou em ao menos 20 dias o lançamento de uma nova linha de tênis importados da China por falta de navios nos portos chineses, embora trabalhe com nível baixo de importações. Para evitar problemas, vem mantendo um estoque regulatório de produtos para seis meses:

— Em 2021, com esses problemas, a indústria calçadista teve aumento de 20% a 30%. Mas só repassamos 15% de aumento ao consumidor por causa do estoque regulatório.

Rafael Dantas, diretor comercial da Asia Shipping, multinacional brasileira presente em 11 países no setor de logística, com importação e exportação por via área, marítima e terrestre, observa que o feriado de Ano Novo na China, no fim do mês, traz preocupação com o aumento de casos de Covid-19 e o risco de mais lockdowns.

Desde o ano passado, ele vê mudança de estratégia de empresas no Brasil:

— O setor de eletrodomésticos reduziu sua oferta de produtos. Se oferecia três linhas de batedeira, passou a oferecer uma só. Outros setores, como o automotivo e de computadores, aumentaram importações por via aérea para fugir dos gargalos marítimos.