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Após seis meses, comércio é 'última fronteira' do Pix

Fonte: O Globo
04/06/2021
Pix

Nos primeiros seis meses de funcionamento, a velocidade da adoção do Pix pela população superou até as projeções mais otimistas do Banco Central (BC). No entanto, há ainda uma “última fronteira” a ser ultrapassada: o comércio.

Apenas 8,5% do valor total que passou pelos Pix foi destinado a compras em lojas, restaurantes ou vendas pela internet, de acordo com o BC.

Esse processo mais lento já era esperado durante a construção do Pix. Diferentemente das pessoas físicas, as empresas enfrentam caminho um pouco mais lento para a implementação do Pix.

Muitas, por exemplo, precisam atualizar sistemas e treinar os funcionários para oferecer o novo meio de pagamento.

Para Carlos Netto, CEO da Matera, empresa de tecnologia que atua no mercado de pagamentos, as lojas físicas são a “última fronteira” do Pix.

O CEO espera que o aumento da concorrência entre os softwares das lojas, as empresas de máquina de cartão e os bancos possa tornar o Pix mais atrativo para empresas.

— Ou as empresas que oferecem os meios de pagamento andam logo e estimulam o uso ou quando perceberem, já perderam. Tem o banco, o software de ponto de venda e o adquirente disputando e é essa disputa que vai criar uma aceleração para que o lojista passe a receber por Pix — disse.

Novo saque pix deve ajudar

De mês a mês, o valor de pagamento de pessoas para empresas vem subindo, mas em um ritmo mais lento do que o restante das operações. Nas últimas semanas, no entanto, houve aceleração, de acordo com o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, João Manoel Pinho de Mello:

— Ainda tem muito o que crescer em relação ao que é transacionado por débito ou boleto e a gente espera que a partir de agora, com o final do processo de padronização dos QR Codes, a velocidade de adoção comece a aumentar.

A head da unidade de negócios da Finnet, empresa que fornece softwares de gestão financeira, Fabiane Ceccato, destaca que o investimento necessário para atualizar os sistemas pode ser outro obstáculo.

— Tem toda uma camada de investimento que tem que ser feito para adequar o sistema, para integrar com o banco. Então, hoje eu entendo que isso não foi tão alavancado justamente porque tem todo um processo ali que precisa ser analisado entre sistemas — disse a especialista.

O diretor do BC explica que esse investimento é mais relevante para empresas médias. No caso das grandes empresas, a adoção do Pix é em escala, e o gasto fica diluído.

Para a pequena empresa é mais simples, com a disponibilização de um QR Code ou somente o envio da chave Pix por mensagens para os clientes.

É esse o caso da clínica de procedimentos estéticos My Shape, em São Paulo. A proprietária, Alessandra Pereira, diz que adotou o Pix para receber pagamentos e para pagar seus funcionários depois de um pedido dos próprios clientes.

— Estava evitando porque tinha clientes inclusive que trabalhavam em banco que estavam ressabiados, diziam que preferiam esperar. Então pensei: ‘também não vou’. Aí veio um cliente, veio o segundo, no terceiro pensei: ‘Vou me cadastrar, porque pelo jeito está todo mundo usando já’ — disse.

Outro fator para a baixa adesão entre comerciantes pode ser o custo. Diferentemente do Pix para uso pessoal, o serviços de pagamentos pode ser cobrado no caso das empresas. A tarifa é estabelecida livremente pela instituição, mas Netto, CEO da Matera, relata que elas têm sido um pouco mais baixas do que as cobradas pelas maquininhas de cartão.

Pinho de Mello, diretor do BC, analisa que essa sequência de demanda das pessoas e o barateamento de taxas para os comércios deve estimular a adoção do Pix:

— Esse processo se retroalimenta. Quando as pessoas se acostumam a pagar com Pix, elas vão começar a esperar que possam pagar com Pix. Os estabelecimentos comerciais vão ter interesse em oferecer o Pix. Quanto mais estabelecimentos oferecem Pix, mais as pessoas vão querer usar porque sabem que aquilo é aceito.

Também está na lista de pontos que podem ter dificultado a popularização do uso do Pix para pagamentos o “pé atrás” de alguns comerciantes.

De acordo com o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, há ainda preocupação com a segurança e a privacidade das transações.

O economista acredita que a implementação do Pix será positiva para o comércio e precisa ser estimulada. Thadeu aposta que o Saque Pix, novo serviço que permite o saque em espécie em comércios, será um ponto de virada:

— Por enquanto a maquininha é mais usada, mas à medida que as pessoas comecem a pagar e receber em dinheiro, o Pix vai começar a entrar na pequena e média empresa.

Até desconectado

Além do Saque Pix, João Manoel Pinho de Mello, diretor do BC, aposta em serviços novos para aumentar o uso em estabelecimentos comerciais. Uma novidade que deve ser implementada no primeiro semestre de 2022 é a possibilidade de fazer pagamentos desconectado da internet.

— A gente vê uma necessidade de se mover para, ao menos do lado do pagador, ele conseguir estar off-line. Isso é importante para a inclusão, porque nem todo mundo tem acesso a planos de dados generosos em que se pode usar a rede 4G à vontade — disse.

O Empório Delas, restaurante na Asa Norte, em Brasília, já adotou o Pix. Assim como no caso da My Shape, a demanda veio dos clientes. Cida Pessoa, uma das sócias do estabelecimento, usa o Pix para receber e fazer pagamentos.

— Uso para pagar fornecedores, pessoal e alguns prestadores de serviço que trabalham comigo. Isso ajuda muito porque a gente usava TED e a tarifa era altíssima.